É de manhã
É de manhã. Acordo ao som dos barulhos naturais daquela vida. Levanto-me sem esforço e desço de robe (disponível para mim no quarto). A srª Robson prepara um pequeno-almoço rotineiro para eles, extremamente avantajado para mim. Vou engordar. Não importa… vou ser tal qual um deles!
- Sente-se, Garda! Vou já pôr os ovos mexidos e o bacon na mesa. Se quiser, beba já um suminho antes do café. Vai dar-lhe energia para passar um dia gelado! Começou a nevar. Ainda é muito cedo, mas o frio parece não ter respeitado o outono… Mas não se preocupe, ainda será apenas uma amostra. Não será suficiente para ficar. O meu marido deve estar a chegar. Foi comprar pão quentinho. Não é costume nosso, mas queremos que saia daqui bem alimentada e as visitas são tão poucas que até ficamos contentes por, finalmente, termos um bom motivo para ir à padaria logo de manhã.
Sinto-me acalentada no âmago de tal gentileza. Pela janela posso ver a neve, nada densa, no chão dos prados ao longe. Não há música, só a nossa respiração a entoar momentos únicos de convívio ao pequeno-almoço. Estou tão contente por viver esta situação, não os conheço, mas quase que os sinto como família, na verdade, mais como avós. Não existe um olhar desconfiado, nem nervosismo quanto à nova pessoa infiltrada. O ambiente apenas transmite uma sensação de casa, família, conforto e bem-estar. Bem sei que não é a minha cultura, mas já senti isto noutras famílias, como na Alemanha. Não se entregam com facilidade, mas, depois, é uma amizade para toda a vida! Na verdade, acredito que todos os povos poderão ser bons anfitriões. Cada qual à sua maneira, mas provavelmente não menos calorosa e importante.
Ali vem o sr. Robson a suspirar do frio lá de fora.
- E aqui está. Pãozinho fresquinho.
Tira o casaco, esfrega as mãos, passa-as pelo escasso cabelo e senta-se, de rodelas vermelhas nas bochechas, lança um sorriso aberto de alegria.
- Ah, como eu gosto das manhãs. É o melhor momento do dia para mim. É quando tudo recomeça, ainda não sei das notícias, a energia está renovada, olho para o dia com expectativa e esperança e parece que tenho todo o tempo do mundo para resolver qualquer assunto e dedicar-me às coisas que gosto. E, já agora, trate-me por grandpa.
De repente, esta última indicação fez-me lembrar a minha mãe. Também ela, sempre que se recebia jovens estrangeiros lá em casa, dizia sempre em inglês macarrónico «Here, I mamã, ok? Say, mamã!» [Aqui, eu mamã, ok? Diz, mamã!] e, nós, os filhos, riamo-nos às gargalhadas do inglês entoado e de algum “embaraço” pela imposição matriarca. É claro que todos os hóspedes deliravam com todo o esforço e empenho materno. Porque ela era assim e ponto final. Já uma conversa entre homens que não sabem falar lá muito bem uma língua comum… é fácil… entre temas como o futebol, alguns gestos e lançamento de nomes comuns, não havia como falhar a comunicação. Se o assunto complicava, lá vinha «Garda, vem cá e explica lá isto em inglês.» O meu pai, claro! E sorrio com estes laivos de recordação, enquanto como aquele pequeno-almoço esplendoroso e respondo «sim, grandpa!» e rimo-nos à mesa.